Meu abandono

A chuva cai com ela um ar de melancolia que se deita ao se molhar na terra, nos gramados e solos que precisam deste, que é o alimento para nascer, renascer, fazer florir cores, cheiros, sabores, emergir na poesia da vida, encantar com brilho nos olhos onde crê que há luz no fim do túnel.

Nuvens negras, este tempo, desperta saudades que se deixa alcançar, pelo coração que se derrama, sem a pretensão de saber o final desta trama, o abandono nas mãos de algo maior, transcendental, que venha nos colocar em seus braços e confiar sem reservas, afim de nos conduzir pelos caminhos onde nossos sonhos estão para serem realizados à medida que este, toque o acreditar, muitas vezes abalado pela falta.

Simples assim, num piscar de olhos, os acontecimentos de toda uma vida que ali está, no momento que a surpresa nos coloca em situações constrangedoras, perdido, sem rumo, sem fala, é certo que existe algo concreto que explica, mas por que pisar no freio se a coragem diz alô, estou aqui, dizendo é possível enxergar dentro de si, a força necessária para a superação, deixando para os ventos espalharem os restos, os excessos, por onde quiserem.

Parte de mim que se revela, criança que cresce, amadurece e torna-se alguém, ah como é bom viver Fernando Pessoa nos versos onde o mesmo diz:

“A criança que fui chora na estrada

Deixei-a ali quando vim ser quem sou

Mas hoje, vendo que o que sou é nada

Quero ir buscar quem fui onde ficou”

Ah como é bom olhar para trás e saber que o passado não se muda, mas olhar para hoje tendo a oportunidade de modificar, de reconciliar com a criança ferida que na estrada ficou e que ainda existe um futuro tão sonhado e desejado.

Agradeço vocês poetas do meu coração, que me ensinam ser quem sou e onde as palavras não puderem chegar, a arte tem a capacidade de alcançar, de libertar de forma criativa aquilo que não consegue transmitir sozinho, sendo assim, fico tranqüilo, na espera de ser hoje o que não fui ontem e que o amanhã seja ainda melhor do que já tenho experimentado.