Em algum momento da vida, o ser humano é convidado – por vários motivos -a se questionar acerca de sua existência, seja por crises de identidade, algo que porventura possa estar faltando; seja pela ânsia de querer saber de si, de sua personalidade, quem realmente se é enquanto pessoa e como um ser no mundo.
Acontece que nessa busca por si mesmo, ainda que esta pessoa encontre algumas respostas que irão satisfazer algumas necessidades, também será confrontada com outras dúvidas ainda piores, pois investir em autoconhecimento, pode gerar um desgaste intelectual, emocional, visceral, além de um cansaço físico.
À medida que a pessoa assume o risco do enfrentamento das situações que o processo de busca personalista exige, experimentando-se existencialmente para que a distância entre o conhecido e o novo, possa se diluir aos poucos, o ser humano passa a ter mais segurança pessoal em conquistar seus objetivos.
Ainda que um possível enfrentamento entre um “eu desconhecido” gere angústia pela possibilidade de encarar uma nova realidade, este autoconhecimento gera a possibilidade do amadurecimento de si, através da aceitação daquilo que é diferente de mim, mas que faz parte de um todo e que por hora precisa ser olhado com apreço e cuidado visando um melhor entendimento de si mesmo.
Quando mencionamos ser diferente, neste sentido, fazemos uma relação de sinônimo de desconhecido e isto por sua vez causa um certo estranhamento, mas a algo de arrebatador que acontece quando se encara o novo: sentir a liberdade interior de ser quem verdadeiramente se é. Desta maneira, a personalidade ganha à partir de então, contornos próprios, características muito pessoais, passando a descrever a vida em primeira pessoa, ou seja, autonomia de ser si mesmo, e isto é libertador.
Desde a concepção da palavra personalidade, o ser humano carrega em si a arte. Arte de ser pessoa, a constante busca de ser si mesmo, procurando extrair daí uma persona melhor como ensina Moretto (2008):
Do teatro grego, pessoa vem de persona, significando máscara (per= através de … + sonare= soar; ressoar), pois a voz do ator soava através da máscara que escondia a sua identidade e apresentava outra, a do personagem que estava sendo representado (MORETTO, 2008, p. 18).
A máscara não é só no sentido negativo ou oculto, aqui tem uma conotação de um expressar de realidades humanas e que se manifesta em diversas formas, demonstrando assim, a prática do ser humano em reconhecer sua própria natureza e mostrar-se através do papel = que esta “persona” representa, manifestando uma forma identitária de marcar na vida.
Assim, é possível inferir que a vida se torna um palco de si, uma grande teatralização, na qual o protagonista desta história somos nós mesmos, pois através da máscara representamos os diversos papéis que a pessoa desempenha, sendo: pai, mãe, filho (a), estudante, profissional, esposo (a), etc.
O termo identidade, como dissemos, tem origem erudita. Usado inicialmente nas línguas neolatinas, esse termo designa a atividade de mostrar, de reconhecer a natureza dos seres e das coisas, que estão na nossa presença, o que justifica sua origem erudita do demonstrativo latino idem (composto de is mais a partícula invariável – dem). O pronome idem, com a forma feminina eadem, e o neutro idem, é pronome que mostra com precisão objetos e pessoas. Idem significa “precisamente este, exatamente o mesmo, a mesma, ou a mesma coisa.” Marca com exatidão a identidade dos objetos. Trata-se, na verdade, de um pronome de identificação, indica, localiza, e mostra algum objeto, uma pessoa, com precisão (MAIA, 2008, p. 31).
Identidade sendo definido como a qualidade de ser idêntico, ou seja, igual ou ele (a) mesmo, tem a função de nomeação e/ou identificação de algo ou alguém, não somente enquanto definição, classificação, que não se muda, mas que caracteriza e localiza o ser, de forma precisa e que distingue, diferencie a pessoa dos demais, como um ser único. O termo identidade é empregado em diversas ocasiões, e denomina uma classificação de algo. Costuma-se ser veiculado no senso comum, uma força de expressão que por vezes define a personalidade de alguém.
Neste sentido, o termo Identidade aqui empregado deve ser entendido como um processo de continuação e não de forma enclausurada, fechada em si mesmo. Para tanto, a personalidade é modificada, acrescentada, retirada, moldada, fazendo disto apenas um ponto de partida, pois o fim nunca é em definitivo, nesta àrea.
Investir nesta questão existencial, é algo que causa vários conflitos e, em determinada fase da vida, pois muitas vezes as pessoas não se reconhecem em si mesmas quando se fazem as perguntas clássicas: Quem eu sou? Como está minha vida? Aonde pretendo chegar? Ainda que isto seja desgastante, fato é que só há mudança a partir do questionamento, pois este nos retira da zona de conforto e nos transporta para lugares novos, diferentes, jamais vistos.
A percepção realista de si mesmo, segundo Rogers, provoca uma busca profunda e investigativa da história do sujeito. Fazendo-nos inferir que não se pode ir, quem nunca soube estar, e estar é, aqui e agora, idéia de lugar e tempo respectivamente. Neste viés, estar aqui, é conhecer o lugar pertencente, a origem que veio em seu âmbito familiar, de onde vieram e em que condições chegaram, até chegar a mim.
Nesta verdadeira viagem rumo ao seu destino, uma vez que todos partimos de um determinado lugar sem saber exatamente aonde vamos chegar, a sensação de incerteza e medo é um convite a ser arriscado, ousado, desafiador.
Segundo Justo (apud Rogers, 1975, p. 45) a percepção do indivíduo supera o conhecimento cientítico: “[…] nenhum instrumento científico nos pode proporcionar maior riqueza de conhecimentos do que a percepção do indivíduo por si mesmo: importante verdade referente ao mundo privado do indivíduo é a de que somente pode ser conhecido de forma genuína e completa, por ele mesmo.”
Então, a idéia de personalidade é de que, somos artistas de nós mesmos, artista que empresta ao personagem, a arte de ser quem somos, ou seja, a liberdade de conceber a vida expressando e atuando não como expectador, mas como autor e personagem de nossa própria história.
A formação personalista do sujeito nasce desta sede, ‘conhece-te a ti mesmo’. Carl Rogers explicita muito bem esta constante e eterna busca pelo autoconhecimento, como um desejo de todo e qualquer ser humano, de ser aceito, acolhido e amado pelo que é, pois este será a fonte de energia vital para o desabrochar na vida.
Neste sentido, o respaldo científico é importante e necessário, mas decidimos e escolhemos com autonomia por nós mesmos, pois é fundamental para o ser humano que ele (a) responda por suas responsabilidades enquanto cidadão, caso contrário, corre-se o risco de viver ou sobreviver a lógica do outro, que de certa forma aprisiona e nos impede de sermos livres.
REFERÊNCIAS
JUSTO, Henrique. Carl Rogers: Teoria da Personalidade Aprendizagem Centrada no Aluno. 2ª Ed. Porto Alegre, RS: Emma, 1975.
MAIA, Rubens dias. O Conceito de Identidade na Filosofia e nos Atos de Linguagem. https://www.google.com.br/#q=O+conceito+de+identidade+na+filosofia. Disponível em: <http://www.ppgl.ufscar.br/novo/arqs/resumos/1308128363_019rubensdias.pdf>. Acesso em: 02 fevereiro. 2015, 15:10:15.
MORETTO, Vasco Pedro. Planejamento: Planejando a educação para o desenvolvimento de competências. 2ª edição. Petrópolis – RJ: editora Vozes, 2008.