O objetivo da abordagem centrada na pessoa é proporcionar ao ser humano um encontro pessoal com sua humanidade, dando vida ao ser identitário do sujeito, visando a auto-realização. Não se manifesta no fato de conquistar algo, vai muito além da materialidade, pois é um estado de bem estar, paz consigo mesmo, feliz com que exerce e é, em sua natureza espontânea:
Há no homem uma tendência natural para o desenvolvimento completo. O termo mais frequentemente usado para isso é o de tendência de realização, que está presente em todos os organismos vivos. Trata-se do fundamento sobre o qual está construída a abordagem centrada-na-pessoa. A tendência de realização pode, é claro, ser impedida, mas não pode ser destruída, sem destruir o organismo (ROGERS, 1978, p. 17).
Até o momento foi explicitado alguns conceitos chaves no que se refere a abordagem centrada na pessoa de Carl Rogers, na qual é constituída a concepção de pessoa numa visão humanista e integrativa do ser humano.
Foram elencados vários termos como as três atitudes facilitadoras, congruência, empatia e aceitação positiva incondicional, experiência organísmica, tendência a atualização e auto-realização. Um conceito está diretamente conectado ao outro e a mudança de alguma parte, pode sim, comprometer o funcionamento de outra, para isso, faz-se necessário esmiuçar os conceitos para ter um entendimento abrangente.
E esta tendência natural do organismo, pede realização, que é a finalidade, não como um projeto a ser alcançado depois descartado, mas pelo mesmo, experenciar as necessidades e anseios que ocorrem no interior do organismo.
Não se destrói o organismo pelas incongruências vividas, mas só há possibilidade de acabar com as motivações organísmicas, com a morte deste que, caso contrário, está sempre em vigor de esperança e clamor de realização.
A realização é uma característica que regula a vida do organismo humano, pois é um atributo pertinente à condição do humano, podemos considerar que a realização é um dos aspectos que define a essência humana. Em cada organismo, não importa em que nível, há um fluxo subjacente de movimento em direção à realização construtiva das possibilidades que lhe são inerentes (KLOCKNER, 2010, p. 33).
A realização humana é uma das questões existenciais que mais intriga as pessoas. Busca-se tanto e em diferentes formas pela ânsia de querer a correspondência sentida, que se acaba tomando decisões prescipitadas. No calor de um instante se curva a escolhas temporárias e sem conexão com o real sentido das circunstâncias.
As manifestações do organismo contém vida e tudo que tem vida, carrega em si, substância que o alimenta e sustenta para o seu florescer, metaforicamente temos enquanto humanos, o combustível necessário para caminharmos rumo a nós mesmos. Assim, experienciamos em nossas histórias as tendências que influenciaram o pensamento de Rogers:
Gostaria de destacar duas tendências que tiveram uma importância cada vez maior em meu pensamento, à medida que os anos passaram. Uma delas é a tendência à realização, uma característica da vida orgânica. A outra é a tendência formativa, característica do universo como um todo. Juntas, elas constituem a pedra fundamental da abordagem centrada na pessoa (ROGERS, 1987, p. 33).
A tendência formativa é sempre direcional, ativa e atuante, está conectada sistemicamente com o Universo e tudo que faz parte dele e através dele é concebido ao ser humano a sua realização, uma ordem crescente do organismo vivo, no qual tudo mais vem para o acréscimo. Quando se é experienciado o organismo de forma coerente, ou seja, suas expectativas de realização.
A tendência à auto-realização, diz Rogers, tem como efeito dirigir o desenvolvimento do organismo no sentido da unidade e da autonomia (JUSTO, 1975, p. 19).
Estabelecer unidade consigo, o outro e o Universo, é o ponto de equilíbrio que gera autonomia no sujeito, um funcionamento ótimo da personalidade, assim como Rogers descreve, não como algo perfeito, mas pleno, no sentido processual e de busca constante de crescimento para cada indivíduo.
Os indivíduos se movem, através da mudança, como estou começando a perceber, não de um ponto fixo ou homeostase para nova fixidez, embora esse processo seja possível, mas de longe o mais significativo “continuum” é da fixidade para a mudança, da estrutura rígida para a fluidez, da “stasis” para um processo (JUSTO, 1975, p. 69).
Vida plena: eis o movimento ótimo da personalidade em Rogers. Parece algo até transcendental, distante de ser alcançado, causando a sensação de que talvez não seja conveniente para cada pessoa, mas olhando como um processo contínuo, não é uma linha de chegada, e sim um ponto de partida.
Pois é aí que começa colher os frutos que foram plantados, vivenciados pela plenitude da experiência significativa, para cada qual, saindo da rigidez há um comportamento flexível.
A fluidez acontece na espontaneidade destes comportamentos, em que a pessoa sai de um estado de tensão, a liberdade interior, de ser autor e responsável pelo seu próprio crescimento e assim convencidos de seu papel para proporcionar a realização de outros que desejam se encontrar primeiramente como pessoas, para depois estar “inteiro” e disponível ao Universo do mais próximo ser humano.
REFERÊNCIAS
JUSTO, Henrique. Carl Rogers: Teoria da Personalidade Aprendizagem Centrada no Aluno. 2ª Ed. Porto Alegre, RS: Emma, 1975.
KLOCKNER, Francisca Carneiro de Sousa. (Org). Abordagem Centrada na Pessoa: A Psicologia Humanista em Diferentes Contextos. Londrina-PR: Ed. Unifil, 2010.
ROGERS, Carl R. Sobre o Poder Pessoal. 1ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1978.
ROGERS, Carl R. Um Jeito de Ser. São Paulo: EPU, 1987.