O olhar que tem a capacidade de encontrar aquilo que se é, atravessar histórias jamais contadas, riquezas não reveladas. Que bom seria, olhar sempre como se fosse a primeira vez, alcança o que não precisa ser dito, conhece bem, porque olha devagar, sem pressa em realizar o que se quer, mas o que pode ser, cada detalhe é um conhecimento para poder ser, respeitar o jeito e o tempo de amadurecer, as palavras convencem, o testemunho arrasta.
Muitas vezes o olhar é um clamor, um grito de desespero, uma atenção que se faz necessária, perceber o filho, é enxergar além do que se vê, mas um campo muito sensível que só sabe fazer uma leitura visual da condição que o mesmo se encontra, à medida que há um contato transparente na relação, sem muitas vezes ter a necessidade de utilizar palavras.
O ser humano é um ser de ação, pensa, se move e sente, cada qual com sua especificidade, não têm o direito de cobrar aquilo que não se tem ou que tem mas não foi descoberto e se descoberto não foi usado da maneira que faça diferença na vida e nas pessoas.
Há um desejo profundo de ver o ser humano se encontrar de alguma forma como pessoas, seres capazes de viver humanamente suas vidas, construir valores e dar espaço para o outro, quando se tem a possibilidade de fazer isso, esvazia-se de si para que o outro seja, é a oportunidade desejada para quem vê além daquilo que se mostra para então, identificar o que realmente é.
A particularidade de ser livre para poder ter acesso ao específico que os tocam como pessoas, formas diferentes de se chegar mas com objetivo de transmitir a mesma mensagem, cada qual com sua maneira, nem maior, nem menor, a arte de descobrir-se humano para se aventurar no universo interior e deixar essa introspecção desabrochar para o outro que o recebe e fazer a diferença necessária.
Limites necessários para o desafio constante da vida e ser gente a partir deste crescimento que convida a todo momento através dos obstáculos e o inesperado, surpresas que nem sempre são bem vindas, mas olhando devagar, são pérolas preciosas para algo acontecer dentro de nós.
Existem encontros quando se busca alguma coisa, a sensação de incompletude leva o indivíduo a percorrer caminhos e conduzir a direção que precisa trilhar, mesmo sem saber ao certo o destino, o chegar depende muitas vezes de escolhas, decisões que não são fáceis, mas ao aceitar o convite do desafio que se apresenta, com coragem, há uma potência de vida interna em cada ser humano que possibilita enfrentar as dores e as diversas situações conflituosas que aparecem.
Encontra-se de verdade, na realidade tal como é, nos defeitos e qualidades, no melhor momento e na desintegração também, desesperado, abandonado, sem esperança, ao contrário, encontra-se na alegria sem expectativas sobre o outro, pois se esperar demais de algo ou de alguém, o mundo que imagina no outro pode desabar, encontrar-se de verdade, na certeza de saber que não pode esperar muito e sim conhecer sempre, o outro é o que é e a compreensão tem que passar por isso, respeitar e aceitar o jeito de ser.
Viver a dinâmica da vida com tudo o que se é ou que faz parte do ser, partes que se configuram num todo, o contrário também é verdadeiro, o conhecer em sua totalidade requer paciência, respeito a individualidade, enxergando o essencial, assim como lentes, ampliando a visão empática de outra realidade que está por chegar, pode entrar, senta aqui, fique à vontade, seja livre para poder ser, sem interrupção, apenas seja e o que sobrar deste encontro, recolhe-se para uma próxima oportunidade.
Os porquês pede explicação, a finalidade é o que importa no momento em que a resposta não vêm, onde se quer chegar é o foco, na ausência de diretrizes conhece-se e reconhece-se que o encontrar depende do movimento e da direção que conduz, à partir daquilo que é próprio do sentir, de repente algo que se procura, concretiza-se por algum ato e se maravilha por ter sido correspondido.
No silêncio da intimidade que se estabelece, no particular, onde ninguém tem há possibilidade de ouvir e ver, é ali que a escola do crescimento convida a ser, sem a obrigação de realizar os desejos alheios, o direito de se abrir, na loucura e na essência de fazer acontecer o inesperado, colocando para fora a arte e a originalidade do que se é, esta é a oportunidade que o Pai tem para intervir no sentido relacional consigo, com o outro e com o mundo.
A linguagem do amor que sacia como pessoa, formas criativas de atingir o coração que deseja afeto, estranho jeito de demonstrar, mas é o jeito que podes dar, não se cobra nem há aborrecimentos, a leitura que se faz do compreender deve ser demorada e sem preconceitos.
Esse jeito de demorar nos sentimentos, viver as palavras de forma intensa, vida que se vive através desta sensibilidade aguçada, pela humanidade sofrida e a felicidade que é plena, ao ver gente sendo gente quando se encontra, toma posse da maravilha que é ser pessoa e desdobra-se para o outro fazendo derramar os efeitos de uma alegria conquistada através da dor, quanto mais fores essência, tanto mais uma vida de aparência é deixado de lado, fazendo cair possíveis máscaras que superficializa e impede de ver além. Permitir enxergar o todo para que não se corra o risco de cair na mediocridade de ficar preso em partes que te revele, oferecer outro lado para que esta profundidade leve ver o que está invisível aos olhos.
Este olhar humanístico que faz respeitar o que é, ser empático e coerente consigo mesmo, é uma forma de assumir a identidade, marcada pelo selo que identifica como ser humano e nesta carta, descrever a vida nos sentidos e a intuição que diz, é por aqui.
A viagem é longa, entrar em contato com os sentimentos gera angústia, ficar parado não é uma boa escolha, a velocidade dos pensamentos, com os batimentos do coração e o corpo desconectado por este amálgama de acontecimentos.
O que passou não volta, não se muda algo que já aconteceu, só não há mudança no agora se a lamentação aprisionar e ficar preso a criança que não quer crescer, atitude racional de decidir-se, de sair do estágio infantil, para assim, assumir uma vida de responsabilidade, é amadurecimento que estabelece a condição de seres imperfeitos mas que direciona para lugares melhores do que se encontra no momento.
Nesta viagem aonde idas e vindas são trajetórias que se cruzam no coração que sabe trilhar nos caminhos que esta estrada percorre, conduz para vários lugares e orienta em meio aos contratempos do quotidiano.
A vida é uma troca de experiências que no drama faz as pessoas representarem, atuar com papéis diversificados a cada passo, ao ponto de serem artistas de si mesmos, artista que empresta arte em quem chega, identificando assim o personagem e ao final perceber o concreto e fazer desta troca uma vida nova.
A interpretação muitas vezes na intenção de definir, tira a possibilidade do outro ser inteiro, pois, não se atingiu o nível de compreensão empática sentida na relação. O humano se derrama, quer chegar, mas sem forças para alcançar, sem saber o porquê e como será. Espelho da alma, que reflete o sofrimento identificado depois de ser esmiuçado na relação de encontros, que se encontra por aí, uma voz penetra as entranhas reservadas, chegou de uma forma que não conhecia, mas conquistou o lugar que precisava ser olhado com mais carinho.
Há um mundo dentro de si, uma subjetividade revelada e outra por ser explorada, a definição pode se tornar o fechar de conclusões que ainda não estão amadurecidas para serem definitivas; investigar, conhecer sem cessar e assim a cada dia descobrir algo novo que nos faz ressignificar a vida e o outro, longe do que enclausura o já saber, perto do que ainda está por ocorrer.
Na abertura do processo de devir que se estabelece profundidade em quem bate à porta é a oportunidade de se auto atualizar na medida em que se enxerga as pessoas como reflexos de si mesmo, considerando a perspectiva da relação de crescimento através do contato.
As questões internas, o ponto de interrogação insiste em dizer vai, não para, a filosofia de vida, abraçada a psicologia humana, estendida pela fé em acreditar no que pode acontecer de bom para humanidade ser melhor, criando meios para sair do óbvio das reclamações e imaginar saídas que poderão ser concretizadas a partir do sim de cada ser humano.
O relacionamento estabelece um diálogo entre o Eu e o Tu, um ser no estar consigo, com o outro e o mundo da experiência. O ser consigo mesmo significa que para ser Eu, preciso de um Tu, não há reconhecimento do Eu sem a presença do Tu, que não é só pessoa física, mas qualquer fenômeno que se manifesta para si e no em si.
Em seguida o Eu-isso, o campo do vivido, experiencial, concreto, o isso é a experiência da relação, o homem não pode viver sem o isso, mas se viver “só” do isso, a vida perde sentido, por ficar somente no ato da ação, a vida é o encontro existencial entre a concretude e a subjetividade, o que surge da relação e o que se manifesta na experiência.
O ser humano recebe no mundo influência pela forma vivida nos lares domésticos, frutos de todos os relacionamentos tecidos, por não viver seu eu verdadeiro, cria-se uma expectativa, um modo de ser que causa satisfação, prazer, mas gera sofrimento psíquico.
Autenticidade provoca autenticidade em quem chega, o pai é exemplo de postura, comportamento para o filho, sendo que o mesmo percebe e associa a coerência entre o que o pai vive, seu jeito humano de ser, com aquilo que fala ou demonstra ser; estabelecer vínculo com o filho e ter um encontro real sem máscaras, é preciso se oferecer ao encontro de maneira transparente, não se dar a conhecer pela imagem que se queira passar, mas entrar no profundo da intimidade favorecendo assim o crescimento desta relação.
Tomar posse do que se é, é se livrar desta casca, sem criar mecanismos de defesa para se justificar por argumentos racionais a sua dor; a vida autêntica requer um desdobramento pessoal, um compromisso com a vida interior de cada humano que se aproxima, pois este é o espelho para o reconhecimento de suas esferas, por onde mais se teme é o local que mais seria convidados a ser.
Esta é a visibilidade que o filho precisa para se desenvolver no curso natural de sua vida, tendo amparo nas escolhas, coragem em ser antes de qualquer utilidade do fazer, se construir humanamente, pois o homem que se tornar, será a humanidade que estará construindo e responsável por tais atitudes.
Não basta estar presente, é preciso se fazer presente na relação, o fato de estar junto sem participação, envolvimento, atenção concentrada diante do que o filho traz como fenômeno, é vazia sem conexão, portanto, sem atualização no processo de renovação daquilo que precede, a existência do ser da relação.
Enquanto o Pai não tomar consciência de si, como limitado e aceitar sua condição de um ser com falhas, porém, com potencial criativo para busca de sentido na existência, a probabilidade de influenciar o filho para tal comportamento ou manifestações conhecidas como “inadequadas”, é muito grande, pois, para ser, é preciso saber estar, no aqui agora da relação, caso contrário, seria o mesmo que uma viagem sem destino.