No que diz respeito ao papel do professor, há uma abrangência em torno desta temática na educação superior, uma problemática que envolve postura, adequação, adaptação, linguagem, relação com o conhecimento, experiência, entre tantos outros temas que são ligados. Seria, no mínimo, insanidade e irresponsabilidade dizer que o papel do professor se resume a transmissão do conhecimento ou em pensar só burocraticamente à prática docente.
São vários os elementos que compõem este papel como elencados acima, mas o primordial é de educador, uma responsabilidade que carrega em si, sentimentos de cuidado, respeito aos princípios, valores, aproximando da realidade subjetiva do educando que por sua vez também incorporará, para “educar, antes é necessário educar-se”.
Esta educação voltada para os educadores de que para educar, antes educar-se, necessariamente deve estar envolvido num processo em que haja relação com o ensino/aprendizagem, relação esta que é dialogada com a vivência dos conteúdos teóricos para dar sentido ou ressignificar os caminhos do saber, isto partindo de uma relação ensino e aprendizagem consigo e a outra pessoa, ou seja, educar-se significa olhar-se para o próprio desenvolvimento a nível intelectivo, afetivo e vivencial, a junção dessas três instâncias promoverá autonomia na formação dos professores.
O estímulo do lado afetivo ou emocional do estudante – amor, empatia, percepção e imaginação – ou foi negligenciado ou deixado para o indivíduo, para sua família ou para o acaso. Quase sempre, o acaso prevalece, e o resultado vem a ser homem-incompleto que, como seus professores, foi educado, no melhor dos casos, para funcionar eficazmente apenas no plano intelectual. A aprendizagem pode ser agradável se for humanizada. E além de tudo, a aprendizagem que preserva o elemento humano está muito mais próxima da vida. O intelectual deve estar ligado ao emocional se o comportamento quiser manter uma qualidade humana (LYON, 1977, p. 44).
Relevante pensar que o papel de uma determinada instituição acadêmica, é a problematização do conhecimento, isto se dá de diversas formas, uma delas talvez a mais conhecida, é através de uma via cognitiva, onde se desenrola os processos do conhecer, aprender e/ou retenção do conhecimento através da apreensão de significados.
Este entendimento de compreender cognitivamente na abordagem humanista, é parte do processo, o plano intelectivo da formação é fundamental, desde que o sujeito esteja aberto e receptivo para o enfrentamento da mesma, se não, pode virar apenas informação, conteúdos que são passados, sem afetação, muitos menos produção de sentidos.
Nem todo conteúdo despertará motivações para aprendizagem do aluno, mesmo que o conteúdo não faça sentido para o mesmo, o trabalho de ressignificação, ou seja, um olhar que vai além do conteúdo proposto, é necessário ser desenvolvido, para que assim possa reverberar no interior organísmico do aluno, fazendo o link de alguma forma com sua própria vida para que se torne significativo.
Esta significância ocorre através da afetividade, de transcender a experiência que talvez não faça sentido a priori, mas utilizando recursos potenciais do próprio aluno, poderá ser lincado o conteúdo experimentado, com o que acontece na experiência individual e coletiva dos alunos.
Assim, teremos a possibilidade de humanização das relações humanas, quando partimos de outra realidade e enquanto educador, o papel é de promover os vínculos no que se refere a afetividade para o crescimento espontâneo do aluno.
Educação humanista constitui algo simultaneamente simples e complexo. Envolve uma tentativa para se ser humano e para se compreender que “o papel do professor” não é uma roupagem profissional, que se veste ao entrar na sala de aula e se pendura na cabide ao sair. Tentar ser um educador humanista significa em primeiro lugar você tem de estar sinceramente interessado, envolvido ou ligado aos indivíduos que são seus alunos. Em segundo lugar, você tem de aprender como comunicar esse interesse. É essa combinação de interesse e a tentativa de comunicá-lo, que parece ser a base do que é chamado de educação humanista. O tema pode tornar-se uma chave para um futuro autodesenvolvimento ou compreensão de si mesmo, se ele for tratado como tal. Isto não quer dizer que a disciplina transforma-se num veículo para uma “sessão de sensibilidade”; significa, isto sim, que o assunto poderá formar um elo cognitivo que, num ambiente genuinamente estimulante, une ou possibilita que dois ou mais indivíduos partilhem uma idéia, pensamento ou emoção. Esse uso da idéia ou tema pode ser uma experiência extremamente “afetiva”. Ser um educador humanista implica em trabalhar com cada aluno como se ele fosse um indivíduo único, e em interessar-se em algo mais do que no “condicionamento” impessoal ou no ciclo de “memorização – regurgitação” que normalmente caracteriza a sala de aula da universidade. Abrange coisas aparentemente simples, tais como aprender os nomes dos alunos, o motivo pelo qual cada um está frequentando o curso, o que cada um espera obter da experiência, e o que cada um está disposto a contribuir para o grupo (LYON, 1977, p. 199-200).
A consciência do papel de professor como dito anteriormente, é de experienciar humanização. Portanto, é fundamental entender que ser educador humanista é pensar de forma integral o indivíduo, aproximar da linguagem do educando que não é só a verbal, mas cognitiva, afetiva, vivencial e a forma com que cada aluno lida, concilia e vive estas principais fontes de comunicação.
Conhecer a perspectiva do aluno, o que lhe interessa e como são fontes fundamentais para fazer um trabalho, aproveitando os recursos de cada um, ligando à disciplina e o conteúdo vigente, independente do proposto, enquanto professor, buscar meios de identificação, complementação e ligação com a realidade experienciada de cada sujeito.
Este vínculo não visa somente a relação professor/aluno, mas prevê sua extensão no âmbito educacional de forma geral. Esta aproximação da relação, porém, não será confundida em cada papel, uma vez que tanto educador como educando, não devem, sob nenhuma hipótese perder o senso de identidade, muito pelo contrário, pois o receio de se perder nesta relação, antes de mais nada revela o fato de não estar seguro de si mesmo, pois quem é livre, se aproxima do vínculo.
Para que esta proximidade com a sala de aula aconteça, (ZIMRING, 2010, p. 21) diz: “[…] essencial que o formador, ou o professor, crie desde o início uma atmosfera ou um clima nos quais se desenvolverá a experiência real pelo grupo ou classe. O formador deverá contribuir para definição e para a clarificação dos objetivos pessoais de cada membro da classe e também para os objetivos gerais comuns ao grupo”.
Esta atmosfera é criada à partir de um acolhimento existencial, onde o grupo será fortalecido em sala de aula por um clima favorável objetivando a aprendizagem, liberdade de expressar o que cada aluno pensa e o sente, aliada à confiança e segurança de sentir-se livre, respaldado pelo professor que tem o papel de facilitador deste processo.
Com esta experiência, serão delineados os objetivos gerais e específicos, acerca da temática envolvida e os compromissos pessoais de cada aluno perante ao conteúdo. Este comprometimento é mensurado a partir do quanto de afeto é destinado e concentrado diante da responsabilidade de tornar um trabalho significativo para a vida.
No exercício das suas funções de facilitador de aprendizagem, o educador procura reconhecer e aceitar suas próprias limitações. Dá-se conta de que só pode proporcionar liberdade a seus alunos na medida em que se sente confortável ao dar esta liberdade. Só pode ser compreensivo na medida em que deseja realmente entrar em comunhão com o mundo interior dos seus alunos (ZIMRING, 2010, p. 114).
O interessante aqui é que o professor procura, ao mesmo tempo em que é um facilitador da aprendizagem, ser um auto-crítico de sua postura como pessoa e profissional, pois quanto maior o reconhecimento e aceitação de seus limites, maior a transparência transmitida ao seus alunos. Com esta prática, seus alunos perceberão que ambos estão em processo de construção humana.
Evidente que cabe ao professor uma responsabilidade diferente devido ao seu papel e função como educador, mas o processo deve acontecer primeiramente no ser de quem é instrumento de formação, portanto, para haver comunhão nesta relação, é preciso compreender subjetivamente o que ocorre também no mundo interior do indivíduo.
O papel do professor não se limita a algumas técnicas a serem aplicadas; ao contrário, é integrado na sua personalidade dependendo de características pessoais e de como estas são percebidas pelo aluno; o professor humanista é uma pessoa que percebe o processo de aprendizagem escolar como uma situação geradora de crescimento pessoal, onde estão engajados tanto os alunos como ele próprio e onde o significado desta relação é vital para ambos; o professor é uma pessoa que percebe seus alunos como pessoas capazes de promover sua própria realização, como seres envolvidos no crescimento e ampliação da própria identidade como ele mesmo, capaz portanto, de compreender as necessidades de seus alunos e as suas, agindo em função delas, isto é, visando sua gratificação; a competência do professor é uma das condições para realização eficiente do processo de aprendizagem; será eficaz na medida em que tiver como questão subjacente e diretriz: “como auxiliar as pessoas a se tornarem mais aquilo que são, a realizarem o seu potencial inerente?” (PRETTO, 1978, p. 91).
As técnicas e os instrumentos de trabalho são importantes. Devem sim ser levados em consideração, mas não é o foco principal do papel do professor humanista. Antes da ferramenta, a preocupação é o investimento no ser humano, através do auto conhecimento, da busca identitária. Bem anterior, portanto, a qualquer formação que venha agregar o trabalho docente.
Para o humanista, tudo que contém energia vital, é fonte de exploração para formação personalista do sujeito. O professor, ao promover a autorrealização do aluno, percebe e valoriza nestes, o potencial criativo e inovador, ampliando as perspectivas do aluno que está em busca de si mesmo.
Dentre os papéis centrais do professor a pergunta chave à questão existencial inerente em cada aluno é a seguinte: como propiciar aos alunos tornarem aquilo que são e realizarem seu potencial criativo? Nos capítulos anteriores foi destacado este encontro formativo com a personalidade, e fica aqui registrado que enquanto educador, é um alvo a ser visado e objetivado.
O elemento saliente na atuação do professor é sua sinceridade, sua autenticidade, a ausência de máscara. Pode ser uma pessoa real em sua relação com os alunos. Pode sentir cólera. Pode também ser sensível e compreensivo. Como aceita seus sentimentos como seus, não precisa impô-los a seus alunos. Pode não gostar do que um estudante fez, sem supor que é objetivamente mau ou que o estudante é mau. A verdade é apenas que, como uma pessoa, não gostou do trabalho. Portanto, é uma pessoa para seus alunos, não uma encarnação anônima de uma exigência curricular, não um tubo estéril através do qual o conhecimento passa de uma geração para outra (ROGERS, 1977, p. 68).
A autenticidade do professor é fundamental para que haja respeito na relação com o aluno. Tentar compreender a sua realidade, não significa ser bonzinho e concordar com tudo para ser aprovado. Porém, ao não gostar de algumas atitudes destes, deve-se assumir o que está sentindo, porque o aluno ao perceber que o professor não gostou de algo, sentirá que não é um fantoche ou algo do gênero, mas integrante ativo de uma relação saudável como se pressupõe as práticas de pessoa para pessoa.
Ser verdadeiro, é reconhecer e assumir esses afetos, manifestando-os de forma adequada para cada indivíduo. O professor não é mecânico, ao contrário é atravessado pelas relações estabelecidas com os alunos e outras questões muito subjetivas, e sente como qualquer e tem os seus dias provados também.
Quando um professor finalmente descobre, como eu descobri há alguns anos, que você não precisa ter todas as respostas, que é mais bonito e agradável ser um ser humano natural na sala de aula do que usar a sua máscara de “perfeição”, produz-se uma transformação. Nós precisamos, de alguma forma, construir um modelo de escola de educação que ajude a fornecer aos professores o poder provocado pela descoberta e pelo amor do próprio eu – o poder de se livrarem dos seus papéis de professores e de se tornarem seres humanos, que compartilham com seus colegas as experiências de aprendizagem (LYON, 1977, p. 319).
A formação docente, no sentido de pensar a conscientização de seu papel e sua função enquanto educador, é de não concentrar as forças e as expectativas do conhecimento, sendo delegadas ao professor, a responsabilidade e autoridade de ser um detentor do saber ou como se fosse um direcionador de caminhos a serem trilhados.
Quando se fala em formação docente, trata-se de firmar o amor ao conhecimento do próprio eu, de ter sede de buscar, em favor do desenvolvimento individual, sem a pretensão de utilizar do papel de professor para demonstrar vaidades intelectuais ou trabalhar em função delas.
O meu respeito de professor à pessoa do educando, à sua curiosidade, à sua timidez, que não devo agravar com procedimentos inibidores exige de mim o cultivo da humildade e da tolerância. Como posso respeitar a curiosidade do educando se, carente de humildade e da real compreensão do papel da ignorância na busca do saber, temo revelar o meu desconhecimento? Como ser educador, sobretudo numa perspectiva progressista, sem aprender, com maior ou menor esforço, a conviver com os diferentes? Como ser educador, se não desenvolvo em mim a indispensável amorosidade aos educandos com quem me comprometo e ao próprio processo formador de que sou parte? Não posso desgostar do que faço sob pena de não fazê-lo bem. Desrespeitado como gente no desprezo a que é relegada a prática pedagógica não tenho por que desamá-la e aos educandos. Não tenho por que exercê-la mal. A minha resposta à ofensa à educação é a luta política consciente, crítica e organizada contra os ofensores. Aceito até abandoná-la, cansado, à procura de melhores dias. O que não é possível é, ficando nela, aviltá-la com o desdém de mim mesmo e dos educandos (FREIRE, 1996, p. 67).
Paulo Freire nos apresenta, no excerto acima, esta forma humanista de chegar e alcançar o educando com respeito e humildade. Numa outra realidade existente, o valor e a dignidade à pessoa devem estar acima de qualquer diferença, sabendo que cada aluno traz em si, as marcas vividas e que isto influencia no desenvolvimento seja enquanto pessoa, seja enquanto aluno, no processo de gestação do conhecimento.
O nível de conhecimento do aluno não se mede só por meio intelectivo e nem se quer colocar este em comparação com alguém, muito menos desconsiderá-lo por não saber ou conhecer menos do que o esperado, o respeito ao ritmo, espaço, tempo de cada um, deve ser prevalecido com uma atitude receptiva diante daquilo que vem por parte do aluno.
Através da humanização atinge-se e são diminuídas as diferenças existentes numa sala de aula, por exemplo. Sabe-se que cada pessoa tem um ritmo diferente com relação aos outros, mas nunca deve ser considerado como inferior, atrasado, sendo tratado este (a) de maneira descartável, sem valor.
As idéias de Freire resgata o valor e a capacidade que temos de amar o próximo, neste caso, o educando, afim de despertá-lo não só o interesse pelo conteúdo que está sendo ministrado, mas também pelo sentimento formativo da educação. Como podemos tratar e relacionar com as pessoas de modo que elas se sintam melhores para o seu processo de autonomia na vida? Esta é a questão em foco que precisa ser instigado e que Freire nos ensina com a qualidade de ser um humanista, o desenvolvimento de ser pessoa.
Há tantos meios de se tornar um educador humanista quanto há seres humanos. Portanto, se você se tornou um adepto, deixe que os seus esforços educacionais humanistas reflitam a sua própria individualidade e idéias únicas. Se quisermos mudar a educação e levar vida para as salas de aula do nosso país, milhares de professores têm de se encarregar de espalhar para outros professores a palavra, o sentimento e aquela alegria que vem quando “aprendemos a sentir e, sentindo, aprendemos” (LYON, 1977, p. 379).
O educador que opta por uma educação humanista, escolhe por um modelo de ensino que propõe o aprendizado pelo ser humano livre, aberto às suas raízes em essência originária. Ou seja, ela é resgatar os valores mais recônditos no indivíduo, é olhar para o aluno e se preciso for “descer um degrau no conhecimento” para que ele (a) sinta apreciado no que sabe atualmente e que está numa crescente evolução.
O campo sensível ainda é visto como tabu, muitas vezes rotulado como um sinal de fraqueza. Entre os mais variados fatores que necessitam ser explorados, o mais relevante é o que valoriza a capacidade de sentir o processo educacional acontecendo nos mínimos detalhes, em cada intenção de ser melhor. Sentimento este que favorece a aprendizagem, e eis aí o papel do professor, ser um facilitador de humanidade para as relações, um convite para quem quer ser um educador humanista.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 35ª edição. São Paulo: editora Paz e Terra, 1996.
LYON, Harold Clifford. Aprender a Sentir-Sentir para Aprender. 1ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1977.
PRETTO, Siloé Pereira Neves. Educação Humanista: características de professores e seus efeitos sobre alunos. 1ª Ed. São Paulo: Cortez & Moraes, 1978.
ROGERS, Carl R.; STEVENS, Barry. De Pessoa para Pessoa: O problema de Ser Humano. São Paulo: Pioneira, 1977.
ZIMRING, Fred. Carl Rogers. 1ª Ed. Recife: Ed. Massangana, 2010.