Compreensão Empática

A palavra empatia vem de emphatos, que significa paixão dentro. É um sentir dentro da pessoa. É humanamente impossível sentir-se dentro de alguém. Não há menor possibilidade no sentido literal da palavra que o mesmo aconteça, o que há, é a tentativa através da paixão por este alguém, de reconhecê-lo como pessoa no sentido de aceitá-lo como é.

Rogers descreveu uma outra parte de sua metodologia como empatia. Em várias descrições ele tem dito que empatia é a capacidade para “intra-habitar” o outro, para ver e sentir o mundo tal como ele é para o outro, e para esforçar-se para articular o que se aprendeu fazendo isto. Ele descreveu empatia metaforicamente como um abandonar a própria pele e passar-se para dentro da pele do outro (ROGERS, 1983, p. 108).

Metaforicamente é como sair de si para que o outro seja quem se é, e isto é um exercício um tanto quanto difícil, pois implica em desapegar de tudo aquilo que aprisiona a relação, na qual o outro deve ser evidenciado e confirmado em seus valores, princípios e ideais.

Todo relacionamento humano é delicado, pois não sabemos até que ponto podemos ir com o outro e isto se dará na experiência de vivenciar a pessoa deste, que clama ser reconhecido pelo que é. Uma das melhores condições para que o processo empático se realize é vivermos antes este processo, questionando como é me relacionar comigo mesmo, porque quanto maior for o vínculo e compromisso consigo, maiores são as chances de proporcionar esta abertura ao outro também.

Ser empático consiste em entender o quadro de referência interna de uma outra pessoa com exatidão e com as componentes emocionais e as significações que aí se ligam, como se fôssemos a outra pessoa, mas sem nunca perder a condição <<como se>> …; se a qualidade de <<como se>> … se perde, então trata-se de identificação>>. Ora, a empatia não é identificação. Há identificação quando há <<repetição literal, mecânica>> da atitude do outro. A empatia é a negação de toda a interpretação do outro, e, por esse fato, de toda a intervenção de um juízo mais ou menos analítico da sua pessoa (HANNOUN, 1980, p. 68).

Fica claro que o termo empatia não se refere em concordar ou se identificar com o outro, mas ser transparente a ponto de se conectar afetivamente numa postura de acolhimento, independentemente de quem seja, propiciando ao outro, um reflexo de si mesmo, fazendo com que este se encontre realisticamente enquanto pessoa e sinta-se compreendido principalmente em seus sentimentos.

Quando há encontros entre as pessoas, no sentido identitário nesta abordagem, não há preocupação em querer interpretar o outro com intuito de classificá-lo, julgá-lo e muito menos definí-lo. O processo empático se dá no envolvimento afetivo das relações humanas com o outro, sem que esta atitude faça com que eu misture as minhas questões pessoais, interferindo de forma negativa a relação interpessoal.

O jeito de entrar na vida de alguém deve ser respeitosa e cuidadosa, de acordo com o ritmo e movimento do outro, sem rotulações, nem classificações, pois todos são diferentes e devem ser tratados em sua individualidade, unicidade e irrepetibilidade.

Quando vivemos atrás de uma fachada, quando tentamos agir de uma forma que não está de acordo com os nossos sentimentos, não conseguimos ouvir o outro livremente. Quando tende a exprimir seus verdadeiros sentimentos na situação em que ocorrem, quando as suas relações familiares são vividas com base nos sentimentos que no momento estão presentes, então o indivíduo abandona suas defesas e pode realmente ouvir e compreender os outros membros da família. Pode permitir a si próprio ver a vida tal como ela surge aos olhos dessa outra pessoa (ROGERS, 2009, p. 374).

Antes de qualquer atitude para com o outro, faz-se necessário um exercício contínuo e constante de se auto avaliar como um ser que busca o reconhecimento de si mesmo. Não há possibilidade de passar pelo outro, sem atravessar nossa própria subjetividade.

Essas armaduras vão endurecendo as pessoas, impedindo que ela seja livre, em seus sentimentos, de poder ir e vir com a consciência tranquila e caminhar com paz interior. Este endurecer do jeito de ser, traz rigidez e adoecimento da saúde mental do ser humano, desequilibra-o desfavorecendo a qualidade de vida.

Por outro lado, quando se tem uma aceitação verdadeira de si, sem fachadas, nem viver por querer aprovações alheias, o ser humano real, aparece com suas precariedades e possibilidades de enfrentamento dos riscos, favorecendo a tomada de consciência como uma pessoa integrada que conhece e sabe onde está ‘pisando’, no que tange aos relacionamentos humanos.

 

REFERÊNCIAS

HANNOUN, Hubert. A atitude não-directiva de Carl Rogers. 1ª Ed. Lisboa: Ed. Livros Horizonte, 1980.

ROGERS, Carl R. et al. WOOD, John K. et al O’HARA, Maureen Miller. et al. FONSECA, Afonso Henrique L. da. Em Busca de Vida: da terapia centrada no cliente à abordagem centrada na pessoa. São Paulo: Summus, 1983.

ROGERS, Carl R. Tornar-se Pessoa. 6ª Ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009.