Contradições

Hoje acordei pensando nas contradições da realidade, como elas se dão, se cruzam e passeiam pela vida com ar de mistério, de contrários, sem a pretensão de serem definitivas, nas teses anunciadas, das negações divergentes, na tentativa de formar síntese que por hora aparenta ficar para sempre, mas na força de vir, ela, com olhar destemido logo vai, a procura de outras ideias, sensações e experiências.

Dói, pensar o desprendimento de ser, libertar uma estrutura rígida, escondida a sete chaves, vantagens recebidas, mecanismos que favorecem aparência vaidosa, sedutora, ao se deparar com o ente real, se afasta e mostra-se as faces obscuras, emoções despertadas, denúncias subjetivas que dispensam as palavras.

Gestos, olhares, uma expressão que cala fundo, este self resistente que deseja sair, nascer na contrariedade de ser, pessoa que sente, sente si mesma verdadeiramente, ao reconhecer o limite que não impede, não interrompe, mas que faz crescer, dá a forma.

É tão doloroso, difícil até de imaginar, pensar intuitivamente remete a lembranças indesejadas, no íntimo do ser, as mais esperadas para acontecer, atentos ao significado do para quê buscar-se, evitar conflitos, “mexer para quê” se o sofrimento irá visitar sem ser convidado, para quê abrir as gavetas de um tempo atrás, para quê se dar o trabalho de talvez se enlouquecer, por não conseguir o êxito egoísta de querer tudo e a todos em seu tempo.

Não respeitar o tempo de amadurecimento é uma violência contra o ‘eu’, com o ‘tu’ e o entre processual desta relação. Vigiar talvez seja isso, estar compenetrado e disponível a desestabilização da estrutura acostumada, a leveza da agregação de corpos que se fundem, se misturam e configuram partes para tornar-se pessoas, que não adotam um discurso, mas que pelo mesmo se modifica, pois se percebe, “sou pessoa, não a tradução dela em mim” e acaso transformar-me um dia nesta teoria, talvez no fundo eu olhe e encontre o vazio existente em mim, por isso, o que irá fazer, contudo, é uma decisão pessoal e intransferível.