Exercício da Paternidade

O exercício da paternidade é constante, não existe um manual de como ser pai, qual é a melhor maneira de educar os filhos, quais são as perspectivas deste desenvolvimento e como prever os desdobramentos desta relação.

É ilusão pensar em perfeição, exercitar a paternidade, é um ciclo sem fim e que exige mudanças ao longo desta jornada, um saber primordial para antes de querer educar, educar-se, aprendendo que o exercício humano de ser Pai é para deixar marcas positivas e plantar semente na nova geração que porventura possa chegar.

A palavra Pai nos remete há uma pessoa com autoridade, que protege o lar, educa, proporciona a provisão não só doméstica, mas emocional, financeira, sexual, na qual, a responsabilidade de quem cria é medida ao ponto que este o represente sua função na prática, ser pai, não é necessariamente um laço genético, pois, muitos exercem este papel melhor que o pai biológico desta criança que necessita de afeto para florescer um ser saudável.

O vínculo de sangue não é garantia de sucesso, nem tem o direito de se apropriar aquele que por sua vez não provisiona o que o filho precisa, não em termos financeiros somente, mas a formação do caráter identitário e as diversas demandas que o filho está apresentando através dos sinais de cada dia; cada momento que ele (a) vive é único e basta o seu cuidado.

Antes de ser Pai, a pessoa deste vem a frente, que sente, chora, sorri como qualquer outro e que este precisa ser amado em sua essência, transfere muitas vezes para o filho o amor que não teve com o seu pai ou ao contrário, é ríspido demais, grosseiro, violento, pois é a única forma que internalizou a ausência de amor.

Analisar o que envolve contextualizando o ser paterno, ter o olhar fixado em sua história, de que maneira foram os processos de internalizações deste indivíduo, quais foram os repertórios de resiliência adotados, sobre tudo os sentimentos de solidão, vazio interior, como foi saciado se é que foi e hoje, a sensação sentida lá traz, permanece? Não é porque se constituiu uma família que garante a resolução de problemas marcados na infância por exemplo, se este que hoje é Pai não se der conta de suas realidades, transmitirá para o filho em alguma via essas dificuldades, o Pai que não se responsabiliza por sua história, corre-se um risco alto de que o filho reproduza o mesmo comportamento, não como algo pré estabelecido e hereditário, mas por ser referência afetiva de sua função paterna.

Marcas são necessárias se construídas à partir de pontos positivos deixadas no coração de nossos filhos, como um selo que nos identifica enquanto ser, que é Pai, sabe da importância espiritual que este vínculo produz na essência da vida, amor concreto que permanece nos encontros, desencontros e reencontros com a oportunidade de começar de novo.

Se o filho é o reflexo do que acontece dentro de casa, os pais tem por compromisso aperfeiçoar-se sua missão através do comportamento dos próprios filhos, não há um laboratório maior e mais eficaz que a experiência diária, é ali no cotidiano que se revela os mais ricos detalhes deste encontro entre pais e filhos.

Existe um processo na constituição familiar desde o namoro, a fase de conhecimento, descobertas, experiências vivenciadas e identificadas nesta relação, onde os primeiros sinais de compromisso, começam aflorar, expectativas de cada um, perspectivas de futuro, com objetivos de buscar a integração daquilo que se é para a pessoa.

O planejamento familiar passa por etapas, por isso, a importância de viver cada fase, atropelar o momento que não é para ser, interrompe o crescimento daquele instante e de certa forma desorganiza a experiência, no caso de tornar-se Pai, o preparo da chegada de um filho tem seu início antes mesmo da notícia esperada, mas de todo um processo psíquico, emocional que está por traz nos bastidores da vida, e se esta responsabilidade não bater à porta deste, o mesmo sofrerá por suas escolhas.

Questionar-se, para quê ou para quem serve um Pai, é no mínimo desafiador no mundo atual, onde percebe-se a ausência mesmo na presença e a desculpa que se dá por não quererem aprimorar-se no seu exercício paterno, muito menos o comprometimento humano com a causa.

Pouco se discute sobre este assunto, há uma terceirização de responsabilidades para a mãe, uma transferência de necessidades e um comodismo cada vez mais exacerbado nos pais de hoje.

Reconhecer à paternidade não é apenas saber sua identidade de pai, mas carregar nos ombros esta marca que levará para o resto de sua vida, transformando continuamente o ofício paterno e sendo transformado por esta vivência.

A representatividade social do termo pai, é construída pelo meio vivencial e atravessada pelas diversas relações afetadas por algum tipo de vínculo estabelecido na sociedade, portanto, sua influência é histórica, cultural e política se tratando de designação do Pai para com seu filho.

O resgate da paternidade também passa pela individuação humana, constrói-se uma relação na qual é beneficiada pela mudança da mesma, pois a dialética nos oferece a oportunidade de recomeçar sempre o sistema que por hora possa estar desequilibrado, voltando a auto-organização novamente.

A sensação de que algo está faltando neste desafio de ser pai é constante, mas as frustrações e o sentimento de impotência é bom, à medida que deixa ensinamentos afirmando que não se tem o controle de tudo e capacidade humana, desta relação entre pais e filhos, serem plenas no sentido de perfeição, a uma passagem pela experiência do limite e é através desta que o ser se humaniza.