Identidade: marcas de uma constante construção

Acolher é aceitar como é, respeito a uma individualidade que chega, se expõe, que fala sem dizer, que chora sem lágrimas, que grita de dor manifestada pelas emoções próprias de cada história.

A partir do respeito, o outro sentirá esta força de ser ele mesmo, sentindo único em meio à multidão, sua identidade ganha vida, assumindo-o como um ser autônomo e responsável pelo que é, sendo assim, a autenticidade começa acontecer no espaço, tempo, no discurso que emerge através do fenômeno.

Escutar alguém requer arte de se livrar de pré-conceitos para receber o que e como vem enquanto demanda, sem deixar que as categorizações pessoais, possam influenciar o outro que chega, saber que a comunicação acontece através do olhar, ouvir, nos gestos, atitudes e que vai além daquilo que se mostra para identificar o que está invisível aos olhos humanos.

Ser empático seria talvez uma das maiores dificuldades, pois se colocar no lugar de alguém e reconhecer o outro pelo outro, é um desafio, sair de um

lugar de conforto e ir para uma realidade às vezes completamente diferente, exige uma concentração e interesse pelo outro verdadeiramente, um exercício um tanto quanto difícil.

Ser realmente autêntico nesta relação é um dos maiores desafios, o ser humano é diferente, pensa, agi e reage de várias formas e por mais que seja parecido, nunca vai ser a mesma coisa. Para ser honesto, congruente, o que há, é uma tentativa de compreender empaticamente para que esta relação cresça, amadureça e faça o movimento espontâneo de ser ela mesma.

Não perder de vista o fenômeno que se apresenta, mas sem ficar preso ao mesmo, investigar sem cessar, com foco no indivíduo, desenvolvendo as questões que o ser humano traz enquanto queixa, com objetivo de a pessoa ter consciência de si e ser dela, tomando posse de suas responsabilidades sem terceirizá-las para outrem.

Para mudar algo ou até mesmo quebrar um paradigma é preciso se questionar, só diante da pergunta a pessoa modifica e através dela se humaniza. Saber o que, como, onde, para que, quais são os objetivos, dificuldades e facilidades, contribui para nortear a situação, orienta os caminhos, esclarece com relação à informação, conteúdo, para se posicionar diante da vida.

Quando se pergunta algo, visualiza-se o contexto, muda muitas vezes de direção sem perder o foco, aumenta a percepção e reconhece o outro com mais propriedade. Fazer questionamento que abrem a discussão e que fechem, saber o momento de intervir quando necessário.

Conhecer, saber do conteúdo, facilitará a intervenção ou os possíveis questionamentos e isto é possível se existir vínculo, pois só há crescimento se estou vinculado há algo ou alguém sem me tornar dependente, pois sem esta aliança, vivo somente a parte boa, enquanto o vínculo exige um suportar de pressões, de situações que aparentemente não são agradáveis, mas que é preciso para construção ou reconstrução do ser do sujeito.

A liberdade de ser quem somos dentro desta perspectiva, criar, recriar, viver a dimensão estética da vida e que dá vida aquilo que está morrendo, perdendo força, extrair do ordinário para o extraordinário, faz a vida acontecer com encanto, valorizando a beleza nas pequenas coisas, utilizar algo aparentemente banal, mas cheio de significados que dará sentido à existência.

Respeitar o momento e o ritmo de cada pessoa é um trabalho que exige muita paciência, perseverança e coragem em não desistir, difícil de conceber tempo ao tempo, prestar atenção ao feedback do outro, porque tanto pode ser construtivo como destrutivo do que e como é transmitido. A mensagem deve ser transmitida, mas a forma é fundamental para que a pessoa não se sinta agredida ou invadida em sua privacidade.

É um trabalho que não tem fim se tratando de mudança de comportamento ou postura, procurar aperfeiçoar as qualidades e superar os defeitos é o caminho, buscar o equilíbrio e o crescimento a todo instante, aprender com o outro através da relação que estabelece-se contato, tendo o outro como espelho, reconhecendo-se e fazendo desta relação verdadeiros laços de encontros.

A responsabilidade de ser pessoa principalmente no mundo contemporâneo é muito grande, os estímulos são diversos, as oportunidades e facilidades, os meios para ter acesso a uma tecnologia que ao mesmo tempo favorece, como se utilizada de maneira errônea também provocará danos não somente a questões financeiras, mas se tratando de saúde mental ou a geração que vem crescendo e sendo atualizada pela velocidade e o dinamismo tecnológico.

O mundo virtual traz consigo uma certa distância das relações concretas, a falta de limite, o exagero, o descontrole, ocupando um tempo maior frente a um computador do que a um diálogo por exemplo. A crítica aqui, é voltada para o excesso e a superficialidade que a virtualidade oferece, formando na mente da massa uma ideia de que só é feliz quem tem, consome; o capitalismo vende a solução que são os produtos, o problema são as experiências que dela surgem.

Será que preciso ter este algo que eu quero, desejo? Para quê? Eu dou conta? O que e como estou me comunicando com o que tenho? São perguntas necessárias para que o olhar não seja somente o externo, mas para o mundo intra pessoal que é a busca de ser pessoa e que por não conseguir de uma forma natural, espontânea muitas vezes, a tentativa é o preenchimento de um ser pelo ter, vazio com vazio, experiência que por vezes são traumáticas e causam sérios problemas envolvendo saúde física e mental.