Vida para mim, é tudo aquilo que me toca, em sua dimensão mais sensível, misturas de emoções: alegria, tristeza, raiva, medo, arrependimento, tropeço e recomeço, aprendizagem… vida, é, neste exato momento em que escrevo, a motivação que me faz ir além das palavras, como uma prece que deseja sair, colocar para fora, manifestá-la, deixar os afetos comunicarem o que aqui está, dentro, por vezes, perturbando, inquietando, angustiando.
Vida, o que é a vida? São meus pensamentos, o que eu sinto, meus desejos, necessidades, qualidades e limites, meus valores, princípios e ideais, são todas as formas próprias de sentir, de tocar, de cheirar, de ouvir, de vir, de degustar e à partir dessa experiência me levar ao ato criativo da ação.
O sentido vem de sentir, sentir a experiência, de se tocar, permitindo-me a abertura sensitiva, vivida, não analisada, nem interpretada, mas descrita, assim como ela se dá, sem imposições, pré julgamentos, respeitando o tempo desta, que é, como uma flor que desde seu plantio, fortificada pela terra sólida, regada pela água santa, cuidada, acolhida e amada em seu processo de acontecer e ao final admirar a beleza que deu vida, que é a vida, que precisou de alguém em algum lugar, para plantar e acompanhar esta criança que piscou e hoje é adolescente e amanhã se tornará adulta, assim, são as relações humanas, os grupos na qual pertencemos e trocamos experiências, dissabores, fraquezas, vitórias.
A nossa vida nem sempre é como gostaríamos, mas como pode ser, altos e baixos, o que aparentemente tende a visualizar um panorama negativo, pelos números, pelos resultados inesperados, não planejados, ela vem e nos toca, para nos dizer que é preciso recomeçar de um jeito diferente, olhando para nossa essência, para questões mais íntimas e nos perguntar, não o que é necessário fazer, mas quem eu preciso ser na qualidade de quem sou e este é tudo aquilo que eu sinto.
Estamos juntos o tempo todo e não permanecemos em relação, pois, isto se dá no encontro presentificado com o outro, não só físico mas afetivo, por que ao invés de questionar o por quê das coisas, não nos relacionamos para conhecer o outro e dar a oportunidade para que este seja quem ele (a) é, assim, damos espaço para que a pessoa deste ser, apareça, em seus questionamentos, perspectiva, jeito de ser e conviver, colhendo as informações para utilizar as ferramentas necessárias que é o nosso maior recurso enquanto ser humano, a potencialidade característica de cada um, o que nos diferencia como pessoas que somos à favor do outro.
Não há como descobrir meu princípio, valor e ideal ou ter acesso a minha missão na vida, visão de mundo, sem investir no autoconhecimento e como faço este movimento? Olhando primeiramente para mim, escutando-me, o que estou sentindo, como estou sentindo e qual o destino que estou encaminhando essas emoções, a partir de então posso identificar a realidade momentânea, nem sempre revestida saudavelmente, mas o momento presente em que sinto, me dão sinais para que eu haja na vida, para a vida e com a vida.
Formação humana se caracteriza pela vivência, que dá sentido à existência, olhar para além dos problemas e conflitos, e/ou pensar fora da caixa é evidenciar o humano existente em cada pessoa e perguntar o que mais me toca na vida, o que mexe comigo ao ponto de me fazer querer levantar da cama e agir nesta vida que me convida a todo instante ser quem sou, ando na velocidade em que a sociedade me posiciona e não escuto o que meu ser tem a dizer, o que meu corpo está dizendo, o que minhas inquietações estão gritando, o que minhas dúvidas estão me atormentando, acabo de me convencer que o que mais desejo de bom para o outro ser melhor na vida, é o que antes, eu preciso ser para mim.
Penso o quanto fui capturado pela vida em seus detalhes o que eu consegui mudar: comportamentos, postura, relacionamentos humanos, amorosos, o respeito à dignidade humana e o quanto reconheci no outro um sinal para minha mudança, olho para minha história e percebo todos os acontecimentos não lineares, o que sonhei tão distante assim e aconteceu, o que não esperava e se realizou, uma intenção, uma prece, um sentimento, todos os desafios que a vida me apresentou e deixei de lado pois só tinha olhos para o futuro e não valorizei o quanto consegui vencer.
Agora é o momento de voltar para as minhas realidades e dar o devido valor, para as pessoas o que você viveu pode ser apenas como capítulos de cenas que todo mundo tem, todo mundo passa, mas só você sabe o que realmente passou, o que realmente sentiu, talvez um abandono, um esquecimento, um arrependimento, uma solidão, uma estranheza de sentir sozinho em meio à multidão, às vezes não sentir que é pertencido a determinado grupo ou até mesmo sentir a exclusão de uma sociedade que te valoriza a partir do que se tem pois tem dificuldade de ser, ser pessoa, quando não se consegue ser, aumenta a ânsia de mostrar-se, aparentar um “case” de sucesso e continuar alimentar o capitalismo desenfreado e caminhar sem observar-se, que o que realmente importa na vida, são minhas marcas identitárias.
Revisitar a minha história e passar a limpo algumas questões primordiais que me afetam hoje são fundamentais para que eu consiga me relacionar com os outros, conviver em sociedade, conviver comigo mesmo, dar conta de mim, olhar no espelho e me reconhecer, no homem que sou hoje, o menino que fui ontem que às vezes quer tomar decisões adultas, mas que não tem condições de assumir tal responsabilidade, por isso, você pessoa, grupo, se tivesse a oportunidade assim como no filme: “Duas vidas” de se encontrar cara a cara com a criança que você foi, o que diria para ela? Se pudesse sentir o mesmo sentimento que a sua criança foi em algum momento da sua vida, hoje, adulto, você teria condições de pegar nas mãos, abraçar, olhar para a criança e caminhar junto, dizer para ela que você adulto está com ela, principalmente nas necessidades que ela passou, nas dores que ela sentiu, nos momentos que ela não conseguiu dizer o que sente, agora você adulto, pode olhar com mais carinho e dizer para esta criança o quanto você caminhou e transmitir essa experiência, pois a criança que você encontrou é você mesma.
Vida é, antes dos projeto de ações é, revisitar o projeto existencial, e como estou construindo a minha existência? Onde concentro minhas energias, na geração de trabalho e renda para sobreviver? Os princípios da Economia Solidária se aplica a minha vida? Como está minha vida? Quais sentimentos tenho por ela? Qual a relação que estabeleço com a vida? O que eu realmente quero da vida?