A família é quem dá vida ao indivíduo, lugar de geração, constituição, criação no seio familiar, por onde se constrói o senso de realidade, aprende a dar os primeiros passos, começa a falar, andar, ter sensações e percepções do mundo concreto, à partir das relações estabelecidas pelas primeiras inscrições das pessoas que cuidam, via de regra, os pais.
Por mais que se diga, “não pertenço a esta família”, não gosto, não quero, para esta, só o meu desprezo, pensando que a família ao lado sempre é a melhor, mais saudável, vivem de forma harmoniosa, aparentemente sem tantos conflitos.
Mero engano, toda e qualquer família existem conflitos, danos e perdas, o problema é tratar os conflitos como problemas, impedindo de ver a beleza e o significado do conflito, aquilo que produz, que nasce desta experiência, pois se olha o concreto, o que acontece, mas perde-se oportunidade de crescer através do sentido do fenômeno.
O conflito em si não é bom, mas o que dela produz é necessário para o crescimento e desenvolvimento da relação, o que se percebe no senso comum é uma distorção do termo, olha para o conflito enquanto brigas, intrigas, até chegar a famosa frase: “vamos evitar o conflito”.
A questão não é o que faz para, mas ter capacidade de enfrentamento da realidade, à medida que se deixa passar qualquer tipo de conflito sem se tocar, criando lacunas, formando feridas, afastando de si mesmos, o medo da vida autêntica, de se perder no outro, porque antes não aprendeu ter uma experiência individual.
O ser família implica em mudanças de mentalidade acerca daquilo que se observa e como de acordo com cada perspectiva, pode-se chegar a lugares em comum juntos, respeitando o jeito humano de ser de cada membro familiar, para assim pensar em novas possibilidades de construir um lar, que seja de humanização pela experiência individual do ser, afetando o coletivo com espírito de comunidade, atingindo a potência nuclear desta que deseja ser família.
Para tanto, desprender-se de si, abrir mão de algumas coisas, estar aberto para as diversas mudanças e imprevistos, estando consciente que não se tem o controle de tudo e que as situações acontecem sem que se espere, já é um começo rumo ao crescimento natural e espontâneo na forma de ser e o lugar com que cada um ocupa neste espaço doméstico.